A celebração de Fernando Pessoa em forma de filme
Este thriller pessoano, que se estreou no Festival de Roterdão, foi filmado, em regime de isolamento, numa fábrica na Vila das Aves, tratando-se de uma viagem à mente de Pessoa, a qual começa com a imagem de um edifício em forma de cérebro. O objetivo inalcançável do filme é mesmo transportar-nos para o interior da cabeça de Fernando Pessoa e encontrar uma multidão de heterónimos.
O realizador dá, através deste filme, corpo aos heterónimos de Pessoa que, segundo Jerónimo Pizarro, são 136. A ideia na base do filme é a de que, de facto, para que fosse possível fazer tudo aquilo a que se propôs, Pessoa teria de contar com uma extensa equipa feita de desdobramentos de si próprio.
Pessoa ortónimo é o líder daquele estranho escritório, com ar de redação de jornal dos anos 20. Só que os próprios heterónimos têm dificuldades de relacionamento entre si. Desenvolvem-se crises, disputas, invejas e rivalidades. Um a um, os heterónimos são misteriosamente assassinados, tornando-se um thriller policial, em que planos de realidade e ficção se misturam.
O realizador faz de Fernando Pessoa um líder, seguro de si próprio, com o estilo do ator Miguel Borges. E faz de Ofélia de Queiroz uma femme fatale, com o glamour de Victória Guerra, transformando-a num novo heterónimo.
A quase totalidade das palavras proferidas em Não Sou Nada é retirada de textos de Pessoa, no sentido oposto ao Filme do Desassossego, de João Botelho. Vale a pena revisitar, através deste enigmático filme, o grande Fernando Pessoa!

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